Há pouco resolvi assistir a um típico filme do Telecine Light: Uma rainha diferente. O filme conta a história de uma menina gorda escolhida rainha dos ex-alunos de uma escola americana. No roteiro, nenhuma surpresa; já esperava que a menina gorda e rejeitada, escolhida como uma espécie de piada, em certo momento se tornasse “pedante” diante do que conseguiu. Mas o que seria uma típica comédia adolescente sobre preconceito, pelos detalhes, acabou se transformando numa grande lição pra mim.
A primeira cena que vi, já que peguei o bonde andando, foi um ensaio de desistência de Mag. Intimidada com a rica campanha da linda adversária, ela procurou a diretora do colégio para desistir. Mas percebeu que a diretora não só não acreditava que ela conseguiria ser eleita, como também se incomodava com o fato de uma garota gorda ser a imagem do colégio, e então, ao invés de pensar “tenho mesmo que desistir”, reafirmou a sua candidatura. Neste momento desejei ser aquela menina.
No meio das coisas de praxe como apelidos, armações e intrigas, pude ver a auto-piedade e a auto-sabotagem. A garota forte que enfrentou a eleição sucumbiu à vaidade de ser vítima. Mas há vaidade em se colocar na posição de vítima? Há sim, e talvez essa tenha sido a grande lição. Ser vítima tira de mim a responsabilidade pelas minhas escolhas, e isso por vezes é tão fácil e cômodo, quanto oportuno e proveitoso. Sendo o centro das atenções por ser gorda e por isso perseguida, ela esqueceu de representar aqueles que por razões diversas também se sentiam preteridos como ela.
A conseqüência dessa atitude se pode ver, principalmente, dentre os amigos que ajudaram na campanha. A melhor amiga dá a chave: “nada vai mudar, se você não muda”, mas ela ainda é incapaz de enxergar isso. Sozinha, veio a auto-sabotagem. O medo do desconhecido, a insegurança, a certeza de ter agido mal fizeram com que ela se escondesse, e pensasse em desistir. E mais uma vez eu quis ser aquela garota.
Várias foram as passagens que me fizeram pensar, e vários foram os detalhes que acenderam em mim alertas, mas é impossível colocá-los, todos, aqui.
Basta que eu diga que ela foi coroada; e que sob vaias assumiu que errara, mas que gostaria muito, de assim como eles, continuar de cabeça erguida pelo que haviam conseguido até ali. Ela entendeu que aquela não era uma jornada contra os outros, mas contra ela mesma, e se sentiu feliz de ter enfrentado todos os seus medos usando um vestido maravilhoso.
Eu, cativa de muitos medos, desejei mais do que em qualquer outro momento, ser como aquela garota. E diante dos créditos subindo na tela da TV, vi-me enfrentar meu medo primeiro: o de sucumbir a eles – os medos que paralizam.