domingo, 6 de abril de 2014

sonho para refletir

imagem: www.samauma.biz
Há dias um sonho aparentemente simples revolve meus pensamentos.

Parecia uma festa para meu pai, na praia. Eu cumprimentava muita gente passando por mesas e por pessoas. Estava feliz e tranquila. Indo ao encontro de meu pai um homem de uns cinquenta ou sessenta anos me aborda. Bêbado, maltrapilho e cheirando mal. Segura meu braço e diz que me ama. Pude sentir que ele não falava de amor de casal, mas lembrava de algum afeto passado, mas esquecido. Mesmo assim eu tentava me desvencilhar desse homem desagradável. Afinal, estava bêbado, cheirava mal. Num giro de corpo, tentando sair dele com um sorriso amarelo, encontro meu pai que diz algo como: “minha filha, é nosso amigo... ele disse que te ama, diga a ele também...”. Minha lembrança naquele instante é de continuar desconfortável, mesmo com a presença de meu pai, e de não querer retribuir àquela demonstração de amor.

Este foi apenas um trecho do sonho. Acordei lembrando muito mais da Tia Rosário que também estava lá e não dei importância ao que acabo de relatar. Acontece que foi voltando à minha memória a imagem muito viva daquele homem. Acabei entendendo então, que ali havia alguma mensagem pra mim e me pus a pensar.

Alguém bêbado e maltrapilho tão diferente daquelas pessoas que eu cumprimentava na festa falava de um amor por mim, e eu não estava disposta a escutá-lo. Afinal, a única coisa que eu vi eram os andrajos. A única coisa que eu sentia, era o hálito incômodo de álcool e o mau cheiro do corpo. Essas impressões primeiras eram muito maiores do que o amor de que ele falava.

Já é possível, meus amigos, chegar a alguma conclusão?

Quantas e quantas vezes deixamos que isso aconteça em nossas vidas? Que a aparência nos impeça de ver o outro? Que a condição momentânea daquele que se nos apresenta leva à condenação sumária de quem ele é? Do que “achamos”, do alto da nossa arrogância que é nosso semelhante?

Pude perceber ali o quanto é fácil amar os cheirosos, os que nos riem seu polimento social, os que fazem o que esperamos que façam, os que nos agradam ou bajulam. Mas é disso que o amor é feito?

Meu convite hoje é que pensemos em quantas pessoas temos afastado do nosso convívio por qualquer dessas “inconveniências”. Poderia enumerar aqui um série delas, das que identifiquei em mim e nos meus, mas prefiro deixar aberta a reflexão. Não é fácil [e quem disse que seria?], mas tentemos ver mais, e ver além. Que consigamos retirar as cascas e fruir o amor.


Paz e bem!

segunda-feira, 18 de novembro de 2013


Fia, lembrei desse texto que escrevi em maio de 2009, e resolvi trazer pra cá para dizer que meus desejos são desde sempre de amor e alegria. 

Que o Sorriso seja constante e se multiplique, com paz e saúde pra você e para os seus.

Parabéns!

beijão.

O casamento do Sorriso


Sorriso disse “vou casar”, assim que me viu. Ri com Sorriso, certa de que era a brincadeira do dia.

– Vou casar! Repetiu o Sorriso, com olhos de quem diz a mais pura verdade.

Agarrei Sorriso de solavanco e dei abraço apertado, daqueles em que a gente diz que ama, e entre trigo, ovos, bifes e farinha de rosca, conversamos.

Percebi, então, algo bem diferente naquele Sorriso que já conheço tão bem: estava certo, sereno, confiante, calmo. Não havia dúvida. Não havia hesitação. “Meu Sorriso cresceu”, eu pensava. Cresceu, e toma pelos braços pra caminhar ao seu lado alguém que cresce também. Sorriso toma nas mãos o destino tendo avaliado os riscos, como de costume; planejando os passos, como de costume; mas certo de que está preparado para o incerto que por ventura venha, pois sabe que vale a pena. Sorriso já sabe que o amor não é uma equação com resultado exato, e portanto, o casamento não será.

Cresceu, meu Sorriso, e por isso as lagrimas que até agora me correm. Lágrimas de alegria, por saber do tanto de amor que há, dele pra ela; dela pra ele.

Vivenciamos uma alegria diferente, ontem. Havia uma energia nova no ar. Era cheiro feliz de camarão ensopado da vovó Saló. Eram os olhos brilhantemente encabulados do Alexandre, sorrindo uma alegria intima de quem volta à paz. Era o ir e vir da Dona Fátima com o coração sossegado de feliz avó, por ver felizes os seus.


O tradicional almoço de sábado da Vovó Saló teve gosto de quádrupla comemoração. E é prenúncio de que ainda haverá muito mais pra se comemorar, e agradecer. Afinal, Sorriso, de agora em diante, mais do que sempre, estará conosco.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Coleção de delicadezas



Descobri: sou colecionadora de delicadezas. E quanto mais dessas joias vivo, vejo, e guardo, mais rica fico. A que ganhei essa semana começou como agradecimento à Dona Saló no mural de Fátima Rabêlo, e me chegou em abraço apertado e emocionado horas depois. Pouco importou se não conhecia Gilka: um amor aos meus é como meu velho conhecido. E eu, naquele abraço, senti como que parte da história daquela amizade longeva

Gilka, que eu conhecia apenas pelas palavras de carinhos das minhas sogras, um dia antes da partida da nossa querida, publicou fotos do “balanço”, presente da Dona Saló para seus filhos. Quando soube da triste notícia, contou emocionada sua chegada em casa com a filha nos braços, sendo por ela recebida, e ouvindo “seja bem-vinda, Lucianinha, essa é a Vovó Saló”. E ela foi para aquela jovem vizinha, por alguns anos, o que soube ser de melhor: mãe!

Como mãe foi de grande parte dos empregados, ajudando em sua formação, estimulando-lhes o crescimento, como bem lembrou Sebastião - ex-funcionário e hoje Advogado -, também um filho seu, como fez questão de dizer no sepultamento quando rendeu homenagens a ela.

Mãe do morador de rua, que mesmo com muita dificuldade de locomoção subiu dois lances de escada apenas para se despedir, como disse, daquela que “muitas vezes matou minha fome”.

Era como mãe que acolhia. Que alimentava quem tinha fome. Que acalentava quem tinha medo. Que abrigava quem precisa. Que aninhava suas joias preciosas, seus filhos, netos, bisnetos e tataraneta a quem amava. Que me transformou em filha. Que viveu, como poucos, a doação.

Das delicadezas que pude guardar desses dias, e que vai ficar em destaque no meu coração, uma ficou mais forte, talvez porque represente bem um sentimento que me é tão caro: as flores penduradas ao portão. Foi uma forma de retribuir e agradecer algum gesto de bondade dela. Representam gratidão, por certo.

Essas pequena demonstrações de carinho é que confortam o coração de quem ama e sentirá tantas saudades, bem como a certeza da missão de semeadura de amor e generosidade, cumprida. E nossa querida Saló cumpriu essa missão com louvor!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012


Em nossa cultura a devoção a um Santo parece estar sempre muito ligada a pedidos de graças. Foi assim também que Santa Teresinha me chegou. Eu estava triste com tantas tentativas frustradas de realizar meu sonho de ser mãe, e de ver que cada vez mais as coisas se complicavam nesse sentido, e uma colega de trabalho [que hoje posso dizer, amiga], perguntou-me se eu tinha fé. Disse que sim, e ela me falou de Santa Teresinha, e de como nunca fora desamparada num pedido a ela, ainda que fosse dando a conformação e compreensão de que o que pedia não era o seu caminho.

De imediato pensei que não era justo eu me aproximar de uma santa só para pedir alguma coisa para ela.

Contudo, no dia seguinte, fui surpreendida por uma imagem da Santa no facebook. Achei curioso, mas ignorei. No segundo dia, uma outra amiga postou um texto agradecendo a Deus e à santa por um bem em sua vida. Aquilo começou a me chamar a atenção. E no terceiro dia isso aconteceu mais uma vez. Para essa terceira pessoa, a Ana Emília, que eu só conhecia pelo twitter e facebook, envie uma mensagem agradecendo, e contando que compreendi o chamado. Ana respondeu que no domingo seguinte deixaria em minha casa a Medalha Milagrosa de Santa Teresina que trouxera do Seu Santuário em Lisieux.

Uma onda enorme de amor e gratidão me tomou naquele momento. Imagine a alegria de ter para si a delicadeza de um presente como esse de alguém que conhece apenas pela internet?

Esperei ansiosa pelo domingo, e tive naquele abraço e naquele presente a confirmação de que minha vida mudaria a partir dali.

Assim é que daquele momento em diante, conhecendo a florzinha do Carmelo, eu que andava tão afastada de Deus senti-me completamente acolhida. Foi assim que daquele momento em diante, eu que tomava remédios para controlar a ansiedade, nunca mais senti aquela angústia horrorosa que sempre me acompanhou.

Quanto mais conheço e compreendo a doutrina de Santa Terezinha, mais paz sinto. Sua lição é de simplicidade, abandono, confiança e amor, e é dessa forma que pretendo pautar minha vida.

Curioso como tendo sido educada numa família católica, tendo estudado em colégio de padres, tendo sempre estado em meio às palavras de Deus só agora eu sinta que verdadeiramente o encontrei. Não aquele Deus que quer de mim o sacrifício, a submissão, mas aquele que espera de mim o amor, que quer de mim o exercício pelo do afeto.

Hoje se comemora o dia de Santa Terezinha, e rogo a ela que continue a derramar sobre nós sua chuva de rosas.

sábado, 7 de julho de 2012

Amizade


Olhando assim essas duas fotos juntas, tive a dimensão da grandiosidade do que significa ter amigos que te acompanham desde a infância.

Hoje tem a Tatiana morando no exterior, Janaína no sul do Brasil, e Valéria um pouco mais distantes, mas sabemos que quando nos encontrarmos de novo, como aconteceu em 2009 quando essa última foto foi feita, será como sempre foi, desde que corríamos as olimpíadas da Campos Sales, e nos reuníamos no clubinho cuja sede era minha casa.

Sabemos que vamos rir relembrando todas aquelas velhas histórias que ninguém se cansa de contar e de escutar. Que vamos perguntar um do outro, não pra saber se um tem mais ou menos ‘sucesso’ (sic), mas porque verdadeiramente torcemos por nossas felicidades.

Ainda somos aquelas mesmas crianças que brincavam, brigavam, e aprendiam uns com os outros. E somos amigos leais. E estaremos um dia com nossos filhos, torcendo pra que eles não aprontem metade do que aprontamos, mas pra que construam amizades como essas que se tem pra uma vida inteira.

Somos afortunados.

Essa foto deve ser de 1985 ou até 87. Esmaeci os outros da foto pra destacar quem continua nessa empreitada de amizade. Da esquerda pra direita, os mais altos: Valéria e Luizinha; Lívio Bruno (primo), Jordan (irmão), eu (A mudêla! Kkk) e Janaína; em baixo, Paulo Eduardo, Amanda (irmã) e Tatiana (de franja).

Foto feita em 2009. Jordan mostrando as mãos; da esquerda, Valéria, Janaína, Amanda e Cezário (que não estava na foto anterior, mas também é das anteras); Luizinha, Tatiana, Paulo Eduardo e eu lá em baixo sendo esmagada de tanta alegria.
 

Ô saudade, viu?


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Da fraqueza a força



Ontem, enquanto pensava nas transformações que aconteceram em mim, em meu marido e nas nossas vidas, e agradecia a Deus por isso, lembrei de um dito popular que minha avó usa bastante: “é preciso fazer da fraqueza a força”.

Foi o que nós fizemos. Melhor, o que temos feito: transformar a fraqueza em força. A confortável cadeira do comodismo por anos foi nosso assento. Não éramos quem queríamos, não estávamos na situação em que sonhamos, mas, vítimas da vida, remoíamos as oportunidades perdidas, como quem está no fim do caminho.

Não saberia precisar em que momento o prego em que estávamos sentados doeu insuportavelmente ao ponto de nos fazer levantar, mas aconteceu. Não saberia enumerar quantos, nem quais fatores nos levaram a transformar a insatisfação em ação, mas transformamos. O fato é que passamos a nos entender como sujeitos ativos das decisões, dos rumos, dos caminhos a trilhar. 

Falo por nós dois porque fizemos isso juntos, de maneiras diferentes, e em tempos diferentes, respeitadas as nossas inúmeras diferenças, mas fizemos juntos. Quando um esmorecia, o outro incentivava. Quando um caía, o outro acudia. Quando um chorava, o outro consolava. Quando um conquistava, o outro aplaudia.

Sei que das muitas coisas que percebemos, uma foi a clara diferença entre as pessoas que fazem das dificuldades e do passado um confortável sofá, das que usam os problemas como tiro de largada. Apenas uma chega a algum lugar: quem parte, quem empreende a busca.

Saber disso não torna as coisas mais fáceis; pelo contrário. Transformar a fraqueza em força demanda mais do que vontade: demanda esforço. E o esforço precisa ser constante, consciente. E pra que ao final não reste apenas o cansaço é preciso ter propósitos claros, para que seja clara a certeza de ter alcançado o objetivo pretendido.

Agradeci ao Pai por todo o aprendizado. Por todas as metas alcançadas. Por todas as novas metas traçadas. Pela nossa união, pela nossa família, pelos nossos amigos, que são estímulo, apoio, alegria, exemplo. Agradeci a Deus a benção de ser eu, e de tê-lo como marido. Agradeço por estar de pé, atenta, alerta, lutando pelo meu bem e o bem dos meus, fazendo minha parte, arando meu campo mantendo a fé de que a chuva continuará a cair.


[texto escrito em 2008, que hoje, 24 de fevereiro de 2012, revivo, por ser nosso aniversário de casamento. Esta é uma das coisas de que mais me orgulho em nós: companheirismo.]

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Mote: ação



Motivação. Encarei a palavra escrita em um pedaço de cartolina posto em minha frente. Arregalei os olhos enquanto erguia um pouco mais o tronco, com as pernas cruzadas. Tentava entender não o que ela queria me dizer, mas o que ela queria que eu dissesse. Então me dei conta de que não haveria onde marcar meu “xis”: a resposta era subjetiva demais. Começava a entender – acho – que eu estava sendo incitada a pensar sobre o assunto. Quais eram as razões de ser? Que papel tinha em minha vida? Quais as justificativas para determinadas atitudes?

Uma quantidade enorme de interrogações foi se formando em mim. Mas pouco a pouco fui percebendo que era sobre “ação” de que se falava; ou melhor, dos motivos que levam à ação: de que motivos me levam, ou me levarão a me manter em ação.

Muitas coisas têm mudado em minha vida, e saber agir, sair do plano das idéias e colocar os sonhos em prática é uma delas. Mas embora eu já tenha conseguido mover as engrenagens certas aqui dentro para determinadas atitudes, algumas permanecem enferrujadas. E o que vai me levar a encontrar o ponto certo? Onde está o fio solto, o parafuso frouxo ou o dente quebrado? E como manter meu motor lubrificado o suficiente para que ele continue em ação?

Se fosse simples como saber que há um óleo para freio, outro para motor... e que óleo Singer servisse pra gente tão bem como pra maçanetas... mas são tantas coisas burilando dentro da gente; são tão diferentes em tipos e intensidades; tão diversas em cada um de nós, que só é possível dizer que o que serve para mim não necessariamente vai servir para você.

Eis a chave: olhar para dentro, estar atento, manter-se desperto. Saber, mesmo que de uma forma geral, como funciona; e assim poder acionar os mecanismos certos. Não nos reduzo a uma máquina, apenas tento ilustrar como tenho me sentido: descobrindo meu manual de instruções.

O mote para a mudança, desde o começo, é a ação. A necessidade dela, a dinâmica dela. A razão de agir pode ser diversa em cada um, e pode ramificar de formas diferentes. Eu sei o que me move, e não descobri no Google, como descobri a autoria da frase que há tempos repito: “o amor me move: só por ele eu falo”, atribuída a Dante Alighieri ― descobri na eugenia, na herança que carrego no meu “número de série”. É de família; tanto herdado, quanto ensinado, e aprendido.                                    
                                
O texto é antigo, mas continua a me servir. E continuo a descobrir, com alegria, o meu Manual de Instruções.