sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

um jeito de ver o Carnaval de Teresina


O assunto da semana em todos os portais e jornal de Teresina foi a recomendação administrativa do Ministério Público, através da Promotora Leida Diniz, de que não houvesse repasse da ajuda de custo do município para as Escolas de Samba. O prefeito resolveu não brigar com o MP, e suspendeu o repasse que viabilizaria o desfile.

As razões da recomendação? Pelo que se pode ler e ver nos meios de comunicação: a promotora acha – e aqui, pra mim, esse “ACHA” grita! – que há coisas mais importantes com o que a prefeitura se preocupar. Nas matérias que li não há menção sobre malversação do dinheiro público por parte das GRES, nem da prefeitura. Em reunião com os representantes das escolas ela disse ter conhecimento de que no carnaval “não se distribui leite”, e sim bebidas alcoólicas, e compara o orçamento público com o doméstico e encerra a reunião dizendo “vocês como donos de casa, pais de família, se estivessem com o orçamento apertado fariam festa ou pintariam a casa?” (não estive lá, não ouvi esta mesma frase, mas do que ouvi do presidente do Sambão, corroborada pelas entrevistas dela que li, ainda que sejam outras as palavras, a ideia continua a mesma). Vi em sua fala desconhecimento, preconceito e parcialidade.

O que a senhora Leida ignora, e não está sozinha, infelizmente, é que uma escola de samba gera renda, direta e indiretamente, para inúmeros e variados profissionais. Para ilustrar: figurinistas, costureiras, sapateiros, ferreiro, carpinteiro, músicos, coreógrafos, dançarinos, etc. Faz circular dinheiro na compra de tecidos, madeira, ferro, adereços, tintas, e etc. Isso sem falar naqueles que no dia do desfile vendem bebidas, comidas, empurram os carros alegóricos e mais etc. e etc.

Muito do que digo agora já foi repetido e argumentado em anos anteriores. Mais do que defender o carnaval de escola de samba, gostaria de levantar alguns questionamentos com base no que li ao longo de toda a semana no twitter.

Carnaval é cultura? Em sendo, é cultura de menor valor? Se considera que não é cultura, por que em Recife e em outros estados ele é considerado Patrimônio Imaterial?

Ah, o carnaval de Pernambuco é lindo? É? E ele estreou no mundo sendo lindo?

Se o carnaval de Teresina não é lindo e lucrativo como em outras partes do Brasil é justo que se coloque a culpa única e exclusivamente nos diretores de escola de samba?

Houve descontinuidade do carnaval de GRES, o que gerou insegurança e descrédito. Todos os anos havia insegurança quanto a realização dos desfiles. Sendo assim, como é possível que a escola de samba se prepare, e siga sozinha, sem saber – e em todos os dez anos que acompanho nosso carnaval foi essa peleja – se haverá desfile ou não? Se o prefeito vai garantir a infra-estrutura e os repasses?   

Muitos são os especialistas, debochados, intelectuais, micareteiros, e “fiscais” de plantão, sendo levianos e desrespeitosos com quem faz com amor e garra o carnaval de Teresina. Mas todos esses, quando o carnaval chegar, vão para os seus sítios, para as praias vizinhas, para os festivais de música na serra...

E de quem então ficavam lotadas as arquibancadas? Que pessoas estavam nas alas organizadas e coreografadas? De onde saíram todos aqueles cadeirantes que emocionaram o público no desfile do Sambão? Que pessoas eram aquelas indo e vindo com suas famílias, lotando as barracas ao longo da Marechal?

São moradores da Matinha, da Vila Betinho, do Poti Velho, do Bumba Meu Boi. São feirantes do mercado. São pessoas simples, de vida simples. São assalariados que só podem ir à praia se pagarem parcelado, uma excursão  de 2 dias. Mas isso também é coisa de pobre, né?

Mas na televisão, em 2009, mostraram a arquibancada descoberta e ela estava vazia. A repórter falava com outro colega no interior do estado e mostrava os blocos de trios elétricos: um mar de gente. E voltava para a arquibancada vazia, ignorando o porquê de ela assim estar: Chuva!

[Qual? Aquela TV que há anos brigava por uma micareta. Que interesse teria, então? Pois é...]

Por fim, se há desconfiança na aplicação do dinheiro por parte das escolas, a promotora deve fazer mais do que recomendar que não seja feito o repasse: denunciar. Quem deve que pague. Afinal de contas, como disse Paulo Andrade em comentário na coluna de Sérgio Fontenelle: não parece inteligente matar o boi para acabar com os carrapatos.

domingo, 16 de janeiro de 2011

para uma menina

Há pouco mais de dez anos atrás conheci uma rechonchuda menina de bochechas rosadas de vestido de bolinha. E a única coisa que desejei, foi que ela me aceitasse.

Essa menina rosada e sorridente era falante, conversante, matracante. Queria ser passista da Escola de Samba, queria o disco da Kelly Key, queria cantar “Juvenar” do Karnak, queria estar comigo e com o pai aonde quer que a gente fosse. E nessa época, enquanto ela fazia parte da minha vida com uma definitividade perturbadora, eu só quis que ela um dia me entendesse.

Mas o que mais fortemente queria essa menina, uns cinco anos atrás, era crescer. E nessa de muito cedo querer ser dona do próprio nariz, de experimentar a vida na urgência que só os adolescentes têm, foi colecionando atropelos tantos quanto as cores de cabelos e piercing e gostos musicais e amigos virtuais quanto pudesse. Apareceram, então, os primeiros conflitos. Eu queria proteger, educar, fazer da minha asa o lugar mais seguro do mundo. Ela queria enganar o tempo na ilusão de que crescimento é liberdade. E a coisa que mais desejei foi que ela me ouvisse.

Há exatos três anos a menina fez quinze anos com uma bonita festa. E incumbida de dizer algumas palavras, fiz um poema, “que é coisa mais afeita às tuas luas”. E dizia “o amor não é dizido: é demonstrado. E o tanto que te amo, deixo ao teu coração, que sei: é sábio”. E tudo o que quis, com toda a força do meu coração, foi que ela soubesse.

Meses depois puxei a menina pelo braço e tive com ela a conversa mais franca da minha vida. E esperei, com a tranquilidade de quem se desnuda, que ela acreditasse.

Experimentamos então, a menina e eu, nos últimos dois anos, uma época de estranheza. Eu queria ver, no fundo daquela confiança adolescente, o coração da menina de vestido azul. Queria ver na alegria virtual daquela menina, a verdadeira alegria, aquela que não vai boca a fora, mas salta dos olhos, e invade gente a dentro; e não via. Queria ver nela dedicação e empenho com os estudos; o futuro. Queria que ela enxergasse o amor que mora nos detalhes... Mas nada quis mais fortemente, do que que ela se lembrasse dos nossos ensinamentos.

Hoje ela faz dezoito anos. E tudo o que desejo é que ela seja feliz. Porque sei que a felicidade não é um presente de Deus, é uma conquista nossa. Pra Deus faço as orações de quem ama. Pra ela peço apenas que não esqueça que nesses pouco mais de dez anos, se não fomos o que ela queria - o pai dela e eu - fomos o melhor que poderíamos. Que encontre quem na verdade é, e que tenha a verdade como princípio, porque é impossível ser feliz de mentira. Que não se acomode na própria inteligência. Que mais do que saber que pode, faça! Que mais do que sonhar, realize! Que mais do que dizer, demonstre!

Eu fico daqui, esperando – e acreditando – que mais tarde chegará o dia em que poderei dizer que a rechonchuda menina de bochechas rosadas e vestido azul, se transformou numa bem sucedida mulher, conhecedora de seu valor e potencialidades, dessas que de batalha em batalha vão colecionando muito aprendizado, e algumas vitórias.

E tudo o que quero, é que ela não queria pouco, porque sei, que com esforço e dedicação – e nada há de bom na vida que prescinda deles – ela pode muito.