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Há dias um sonho aparentemente simples revolve meus
pensamentos.
Parecia uma festa para meu pai, na praia. Eu cumprimentava
muita gente passando por mesas e por pessoas. Estava feliz e tranquila. Indo ao
encontro de meu pai um homem de uns cinquenta ou sessenta anos me aborda.
Bêbado, maltrapilho e cheirando mal. Segura meu braço e diz que me ama. Pude sentir
que ele não falava de amor de casal, mas lembrava de algum afeto passado, mas
esquecido. Mesmo assim eu tentava me desvencilhar desse homem desagradável.
Afinal, estava bêbado, cheirava mal. Num giro de corpo, tentando sair dele com
um sorriso amarelo, encontro meu pai que diz algo como: “minha filha, é nosso
amigo... ele disse que te ama, diga a ele também...”. Minha lembrança naquele
instante é de continuar desconfortável, mesmo com a presença de meu pai, e de
não querer retribuir àquela demonstração de amor.
Este foi apenas um trecho do sonho. Acordei lembrando muito
mais da Tia Rosário que também estava lá e não dei importância ao que acabo de
relatar. Acontece que foi voltando à minha memória a imagem muito viva daquele
homem. Acabei entendendo então, que ali havia alguma mensagem pra mim e me pus
a pensar.
Alguém bêbado e maltrapilho tão diferente daquelas pessoas
que eu cumprimentava na festa falava de um amor por mim, e eu não estava
disposta a escutá-lo. Afinal, a única coisa que eu vi eram os andrajos. A única
coisa que eu sentia, era o hálito incômodo de álcool e o mau cheiro do corpo. Essas
impressões primeiras eram muito maiores do que o amor de que ele falava.
Já é possível, meus amigos, chegar a alguma conclusão?
Quantas e quantas vezes deixamos que isso aconteça em nossas
vidas? Que a aparência nos impeça de ver o outro? Que a condição momentânea daquele
que se nos apresenta leva à condenação sumária de quem ele é? Do que “achamos”,
do alto da nossa arrogância que é nosso semelhante?
Pude perceber ali o quanto é fácil amar os cheirosos, os que
nos riem seu polimento social, os que fazem o que esperamos que façam, os que
nos agradam ou bajulam. Mas é disso que o amor é feito?
Meu convite hoje é que pensemos em quantas pessoas temos
afastado do nosso convívio por qualquer dessas “inconveniências”. Poderia
enumerar aqui um série delas, das que identifiquei em mim e nos meus, mas
prefiro deixar aberta a reflexão. Não é fácil [e quem disse que seria?], mas tentemos
ver mais, e ver além. Que consigamos retirar as cascas e fruir o amor.
Paz e bem!