sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

a quem interessa possa

De tempos em tempos emudeço. A razão? Também pergunto. Em não achando resposta, continua cá dentro uma vontade incontrolável de dizer-me sem saber como, nem por que. Sobra o sentimento de que não há nada a ser dito, pela simples e tamanha desnecessidade de clarear o que já é lume. Então, se não há nada a contar, por que então não cessa essa ânsia de dizer?
Acabo de encontrar em Caio Fernando de Abreu, estampado num cartão criado pela Sayô [amiga querida], numa simplicidade desconcertante, uma possível razão. “E quem pode comigo quando digo o que sinto?”, li, encontrando a absurda verdade. Não posso. Nem quero. Nem devo dizer tudo o que sinto. Isso me colocaria em um estado de vulnerabilidade para o qual não estou, ainda, preparada.
Fato é que não cabe em mim tudo o que sinto e penso, e por isso acolho o grande vazio das coisas não ditas. É preciso dizê-las. Mas a repercussão disso, o entendimento disso, pode ser tão avesso ao que de fato é, que é preferível calar.
Expor dói. Esconder dói ainda mais. Então, diga caro (a) amigo (a), que faço eu dessas coisas tantas que me atravessam o peito? Seguro o que escapa pela ponta da língua? Ou desentalo o que escorrega goela adentro?
Lembrei-me de uma canção do disco “Peixes, pássaros, pessoas”, da Mariana Aydar: “vi que é melhor calar que falar, mas é cada uma que tenho que escutar...”, e deu vontade de rir. Por quê? É que os versos seguintes me dão uma saída, que se não é a melhor, é a mais bem humorada: “no momento não estou, mas deixe o nome após o sinal, que eu ‘tô’ pras bandas de lá, fui viajar, pra ver o sol morrendo no mar... pras bandas de lá... fui viajar, e desliguei o celular...”.

... e essas são as coisas de quem diz quando nada quer dizer, para quem interessar possa.


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